Por: Jorge Carmo, Ana Mestre, Francisco Macedo, José Rebelo
Cesta Feita foi um projeto desenvolvido por uma equipa de voluntários da DSSG (Jorge Carmo, Ana Mestre, Francisco Macedo, e José Rebelo) para a Fruta Feia – uma cooperativa que tem como missão combater o desperdício alimentar através da recolha de frutas e legumes que não são considerados aptos para serem vendidos nos comércios mais habituais. Com os produtos que recolhem, preparam dois tipos de cestas (uma pequena e uma grande, com o dobro da quantidade de hortícolas e frutícolas) para venda aos consumidores.
O projeto teve dois grandes objetivos: por um lado, ajudar na gestão de dados da Fruta Feia através da criação de uma ferramenta digital, e por outro, permitir maximizar a rotatividade de produtos e produtores que a cooperativa consegue alcançar nas suas operações diárias. Para atingir esses objetivos, a equipa seguiu uma metodologia que passou pelas seguintes fases:
1 – Conhecer o beneficiário, as pessoas, os processos e os seus dados
Todos sabemos que é boa prática fazer um projeto tendo sempre o cliente em mente. Para isso, fomos conhecer as pessoas por detrás das delegações do Norte da Fruta Feia para percebermos onde e como poderíamos ser úteis para melhorar as operações da Fruta Feia e conseguirmos estabelecer uma relação próxima com os seus colaboradores.
Investimos também tempo para conhecer os processos (e chegamos até a criar um fluxograma) e explorar os dados que foram disponibilizados para este projeto. Todos os passos normais foram seguidos – desde a limpeza dos dados até ao cálculo de estatísticas descritivas – o que nos permitiu ter uma visão abrangente dos dados com os quais iríamos trabalhar.
2 – Criar uma estratégia e prototipar uma solução
O passo seguinte foi pensar na solução que queríamos desenvolver. Tivemos várias sessões de brainstorming para chegar a soluções com as quais todos estivessem de acordo, desde o melhor software para servir de base da ferramenta até a decisões sobre o desenvolvimento de uma ferramenta que fosse fácil de utilizar e garantisse robustez ou a melhor forma de flexibilizar o seu uso para não ficar obsoleta quando houvesse alterações..
Fomos validando a solução (com a ajuda de protótipos) com a Fruta Feia à medida que esta ia sendo pensada, e fomos iterando a nossa ideia com base no feedback dado pelo beneficiário.
3 – Desenvolver e testar a solução
Esta foi a fase de executar a solução que tínhamos idealizado no passo anterior. A nossa abordagem passou por estar em contacto direto com o beneficiário e ir iterando a ferramenta até cobrir as principais necessidades. Os testes à ferramenta foram feitos pela equipa de voluntários e pela Fruta Feia.
A nossa solução divide-se em três grandes características. Quais são elas?
1 – A lista telefónica inteligente (ou ranking de produtos e produtores)
O ranking é construído com base num sistema de pontos calculado com base na frequência e no momento em que cada produtor e produto foram inseridos na base de dados, ou seja, são priorizados os pares produto e produtor que foram utilizados menos vezes e há mais tempo. A pontuação atribuída a cada par reflete a prioridade que lhe deve ser dada para integrar a cesta da semana seguinte. Para além disso, o ranking tem em conta a sazonalidade de cada produto promovendo a sua utilização na época adequada.
O resultado do ranking é o que designamos de uma “lista telefónica inteligente” que a equipa da Fruta Feia pode usar para proativamente contactar os produtores, promovendo a rotação de produtores e diversificação de produtos.
2 – A sugestão de cestas otimizadas
O módulo de construção de cestas é um algoritmo de otimização que procura devolver ao utilizador sugestões de cestas que promovem a rotatividade de produtos e produtores (ou seja, a pontuação dada pelo ranking).
Este algoritmo procura também cumprir as principais restrições de construção das cestas: número total de produtos, número de hortícolas e peso. No caso de não ser possível construir uma cesta, o módulo devolve alertas sobre o critério que não foi cumprido, por exemplo, “Não existem produtos suficientes para construir uma cesta”.
3 – Uma interface e uma ferramenta de utilização fácil que permitem digitalizar o processo de ponta-a-ponta
Para além dos dois módulos referidos em cima, a Fruta Feia passou a ter uma interface que permite registar e guardar todos os dados recolhidos ao longo do processo. Através desta interface (que engloba naturalmente os dois módulos descritos em cima), os dados são guardados e processados através de uma API. No entanto, a Fruta Feia apenas interage com uma plataforma construída em Google Sheets.
Balanço final e impacto da ferramenta
Recordemos o objetivo a que nos propusemos:
“O projeto teve dois grandes objetivos: por um lado, ajudar na gestão de dados da Fruta Feia através da criação de uma ferramenta digital, e por outro, permitir maximizar a rotatividade de produtos e produtores que a cooperativa consegue alcançar nas suas operações diárias.”
No que toca ao primeiro objetivo, consideramos ter tido um impacto transformador que trouxe uma mudança positiva à Fruta Feia: o beneficiário passou a registar os dados dos agricultores e informação dos produtos disponíveis por semana numa única ferramenta e a guardar um histórico das suas operações numa base de dados. Para além disso, acreditamos que o projeto permitiu que os colaboradores da Fruta Feia aumentassem a sua literacia digital e percebessem os benefícios da digitalização dos seus processos.
No segundo objetivo, conseguimos garantir que toda a ferramenta foi pensada para chegar a um maior número de produtores e, ao mesmo tempo, garantir a variabilidade dos produtos utilizados.
Consideramos que os objetivos do projeto foram atingidos e que a ferramenta desenvolvida tem potencial para melhorar a atividade diária do beneficiário através de informação diária de maior qualidade e apoio na decisão de construção de cestas.